Encontro marcado
Todo mundo que já perdeu alguém muito querido já deve ter desejado a oportunidade de mais um encontro. Mais uma conversa, mais um abraço, mais uma aventura... Puts… Daria tudo por mais uma aventura.
É um desejo bem ingrato. Não tem meritocracia de herdeiro ou palestra de Coach ensinando a mente vibrar no positivo que seja capaz de fazer você “chegar lá” e atingir seus objetivos. Para algumas crenças esse encontro até é possível, mas aí para “chegar lá” tem que passar para o “lado de lá”, o que torna a coisa um pouco mais complicada.
Na verdade, o mais próximo que a gente pode chegar desse encontro é através do sonho. O sonho tem aquela coisa quase líquida, de imagens se misturando, saltos temporais, experiências surreais que nadam de braçada no realismo fantástico. Vai desde o poder de voar até os dentes se desprendendo da boca sem muita explicação. Mesmo nesse cenário com alto potencial para o irreal, o sonho com alguém que já se foi é um encontro magnífico. A presença é completa. Se tiver a sorte de ser um bom sonho, então… Aí é um presente dos céus.
É realmente incrível a capacidade do sonhar em acessar aquilo que você julgava perdido. Me dei conta disso, no dia (na noite, aliás) em que pude sentir o CHEIRO do cabelo do meu filho, Ian. Não só o cheiro. Tava tudo ali. Tinha a textura, ele deslizando em meus dedos… Acordei maravilhado.
Me senti afortunado e agradecido por Morpheus ter proporcionado um encontro com essa intensidade.
Lembrei de tudo isso porque, recentemente, vi a internet se emocionar com outro encontro, o da cantora Maria Rita com sua mãe, Elis Regina, que faleceu em 19 de janeiro de 1982.
O acontecimento foi promovido pela IA e pela Publicidade. Ambas cantoras, sendo a mãe um ícone da música popular brasileira, parecia uma boa ideia colocar as duas para fazer um dueto. O mundo publicitário às vezes tem uma percepção meio estranha do que é “uma boa ideia”.
Sei lá… Elis Regina, e tudo o que ela representa, fica tanto tempo afastada dos nossos olhos e quando volta é para vender Kombi ao lado da filha.
A peça publicitária em si, se escora muito mais na promessa do encontro do que na entrega desse encontro. Embora não faltem elogios ao poder da AI em se aproximar daquilo que é real, a sensação que tive ao ver a Elis da propaganda é a mesma de ver uma boneca da Xuxa. A artificialidade grita. O que, por um lado, é até bom. Se a representação fosse absolutamente fiel, penso que acharia ainda mais estranho.
Cantar ao lado da mãe falecida em uma peça publicitária não é um encontro de almas, mas um encontro de contratos. Suspeito até que nem teve sessão espírita pedindo autorização de uma das partes.
A capacidade da AI em reproduzir sons e imagens é realmente incrível, mas está muito longe de conseguir preencher lacunas de emoção.
Os grandes encontros acontecem na intimidade. Não fazem barulho do lado de fora, mas explodem do lado de dentro.
Sem julgar se Maria Rita deveria ou não produzir a propaganda, porque isso é uma decisão absolutamente dela, a questão aqui é a falsa percepção do que, realmente, seria um encontro de mãe e filha separadas pela impermanência das coisas.
Coitada. A AI sequer chegou perto. Haja verba de divulgação para convencer o público que tinha algo emocionante ali.
Se for para concretizar encontros improváveis, entre uma IA que tenta se aproximar do real através de imagens em alta definição e algoritmos que decodificam matematicamente formas, trejeitos e sons; prefiro continuar com o mundo líquido e insubstancial do sonhar.
Duvido que a Maria Rita sentiu o cheiro do cabelo da Elis.
Mais uma história para o velho Smith
A boa notícia do mês é que meu projeto “Mais uma história para o velho Smith” foi um dos contemplados pelo Proac, edital do estado de São Paulo que fomenta a produção artística e cultural.
Na prática isso significa que receberei uma verba para me dedicar na produção dessa novela gráfica, que deve ser lançada em 2024.
Mas voltando ao “velho Smith”, essa história está na gaveta desde o ano passado e eu estou realmente muito feliz em, finalmente, trazer ela para vocês. Não vou detalhar demais pois sou famoso em não segurar a própria língua e contar mais do que devia.
Por hora, fiquem com as primeiras imagens. Ano que vem o velho Smith tem muita história pra contar.
O mundo de Yang 4 vem aí
Continuamos aqui na produção do quarto livro de O mundo de Yang. A ideia é lançar na CCXP desse ano. Segue uma página para sentirem como está ficando.
CCXP
Falando em CCXP, esse ano terei uma mesa grandona lá. Além dos livros, vamos levar vários outros produtos. Se você gostaria de encontrar algo diferente na nossa mesa, dê aí sua sugestão. :)
Orlandeli no Uma Penca
Agora você pode adquirir camisetas do O mundo de Yang e outras artes na minha loja lá no Uma Penca, que é um projeto da, já consagrada, Chico Rei. Aliás, eles é que cuidam da impressão e do envio.
Visitem lá para ver o que já está disponível. Aos poucos vou subindo novas estampas.
Entra lá: https://umapenca.com/orlandeli/
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